Comecei a pensar sobre inimigos & obstáculos hoje, fazendo 120 agachamentos na academia, me dei conta que esse estava sendo o exercício mais difícil desta minha série… e isso me levou a ficar pensando: se eu faço o mesmo número de repetições carregando 150Kg no Leg Press, por que o desgaste aqui é tão maior?
Foi então que, a esta altura da vida, tive o que chamam de “insight”:
Tenho certeza de que isso já deve estar escrito em algum livro de autoajuda ou de artes marciais por aí, mas até então, como não leio essas coisas, o mais perto que havia chegado desse raciocínio deve ter sido em algum videogame ou anime, mas nunca de uma forma tão prática e real!
Só que essa minha cabeça não para e, extensão do raciocínio e tentativa de silogismo, formulei a frase “eu sou meu maior inimigo”… êpa!!! Isso não é verdade!
Apaixonado pela língua e pelo raciocínio, fiquei atônito diante desse desdobramento inédito, pois nunca havia atentado para o fato de que esses dois termos não estão nem perto de ser sinônimos!
OBSTÁCULOS
Premissa: até meus 13 anos estudei — custeado com muito sacrifício por minha “irmãe” — numa escola particular, numa turma mista, com pessoas que estavam comigo desde o C.A. e, de repente, aos 14 fui para num curso preparatório para as escolas militares, numa turma exclusivamente masculina (com direito a tudo de ruim que a puberdade e sua testosterona podem trazer).
1987 foi um ano bem difícil: pela manhã, das 07:00 até as 12:00, era a 8ª série; depois, com o Euzébio “Carroceiro” e o Fábio Moreira, rapidamente almoçava a marmita porque depois, a partir das 13:00, o Jorge Marques chegava do Monteiro Lobato e se juntava a nós no pré-militar, que ia até as 18:00h!
Dentre todos os professores, dado o objetivo desse texto, quero destacar o “terrorista da Língua Portuguesa”, o temido professor Ramos, que tinha um espaço extra para memória na testa e chamava o aluno ao quadro para exigir dele até as minúcias das análises sintáticas e morfológicas das frases. Segundo sua própria auto definição, ele “perguntava uma, e outra, e outra… até o aluno cair!”
Um dia quero ter tempo de escrever mais detalhadamente, um capítulo inteiro talvez, narrando desventuras de nossa heroica estupidez varonil, mas o fato é que — a despeito de todo esforço, adaptação e desenvolvimento realizados — acabei abatido em todos os três concursos.
Aqui acaba a premissa.
1988 foi mais um ano bem complicado, pois a única coisa que mudou da rotina descrita acima é que pela manhã eu cursava o 1º ano do 2º grau… pode parecer pouco, mas foram introduzidos desdobramentos de matérias, obrigatórias ao nível médio, que nada teriam a ver com os concursos que eu objetivava e uma em particular me encheu de terror — Literatura! — que também seria ministrada pelo rei da inquisição fonética, o dissecador de figuras de linguagem, o mestre dos sintagmas elípticos… o professor Ramos!
Fora isso, lembro bem, eu, adolescente machão e sem nenhuma pressão dessa babaquice politicamente correta dos dias de hoje, também achava que poesia era coisa de viado!
E estava construído um obstáculo que, na minha imatura visão adolescente, seria intransponível… até o momento em que minha mãe me chamou no canto e me deu seu exemplo mais inesquecível de sabedoria, dizendo:
— Finja que gosta.
Como é que é?!?!?!
— Isso mesmo: quando você estiver achando a coisa toda muito chata, muito cheia de frescura… faça como os atores e finja que está gostando muito!
— Mas mãe, como eu vou gostar desse treco cheio de palavras estranhas e velhas, cheio de riminhas no final das frases?!?!
— Vai lá, meu filho, e tenta… se eles estão rimando, vai e rime também! Se eles estão falando difícil, vai e descubra palavras ainda mais difíceis para ver se eles vão entender!
Sabe o que aconteceu?
Eu fui… e fiz.
E se você está lendo esse texto é porque eu caí numa armadilha: eu até era bom em Português e já gostava de ler, mas depois dessa “tentativa”, logo deixei de fingir e passei a verdadeiramente amar escrever, seja em prosa, seja em verso…
Se minha esposa — na época em que era apenas um interesse platônico — não tivesse tratado as poesias cheias de sinceridade e sentimento que lhe dediquei como se fossem papel higiênico sujo… talvez estivesse poetizando até hoje.
Mas, ao menos, perseverei na prosa e tenho guardado comigo o orgulho de ter sido o apoio pedagógico dela enquanto cursou o nível superior e se formou em Letras!
(Ao mesmo tempo em que adquiri e ainda tenho a pétrea convicção de que nível superior, nesse país, não serve pra nada!)
Enfim, hoje eu creio ser capaz de me expressar melhor pela linguagem escrita do que pela falada e escolhi contar esse episódio porque nele fica fácil identificar um dos maiores obstáculos que já tive em toda a minha vida… e do qual hoje chego a sentir um aperto no coração ao lembrar, cheio de saudade, do meu querido professor Ramos.
(Malditos ninjas cortadores de cebola!!!)
INIMIGOS
Enquanto fui ali lavar o rosto e secar uma aguinha que estava saindo dos meus olhos, topei com minha esposa indo colocar as crianças para dormir e tentei antecipar a ela sobre o que aconteceu na academia e sobre o que estou escrevendo…
(Não adianta muito, pois — mais ou menos como na época das poesias ignoradas — ela fica assistindo um monte de outras pessoas — a Lara viajando para o Oriente, a Mi DeSimone e seus tantos empregos, o doutor Barakat… — mais ligadas à área de saúde. Admito que eu até gosto de ouví-la contando o resumo de tudo o que eles publicam, mas, ao mesmo tempo, não consigo de me deixar, como o próprio Cristo disse, um “profeta sem honra dentro da própria casa”…)
Enfim, quando mencionei o termo “inimigos” ela logo ficou desagrada e disse que essa é uma “expressão infantil”…
Parei, pensei (e quando penso é num sentido macro, não apenas no que foi dito, mas em tudo aquilo que levou a pessoa a dizer aquilo)… e descobri que ela, como muitas outras pessoas sofisticadas (especialmente na área profissional), tentam evitar o uso de certas palavras ou, até mesmo, assumir algumas posturas mais incisivas.
Refutei-a com a voz, mas, como disse, escrevo melhor que falo, e vou desenvolver aqui o argumento sobre a existência, sim, de inimigos.
- O inimigo é a pessoa que quer ver o seu mal.
- O inimigo é a pessoa que, mesmo sem motivo, quer te causar prejuízo.
- O inimigo é a pessoa que, a despeito do que você faça, nunca vai reconhecer nem seus esforços e muito menos seus méritos.
- O inimigo é a pessoa que vai te acusar até mesmo pelo que você não tenha feito.
- O inimigo, diante de qualquer conflito, sempre vai buscar um motivo para dar razão e justificar quem estiver contra você.
- O inimigo é quem não aceita que você se destaque fazendo alguma coisa, mesmo que ele próprio nada faça.
- O inimigo é quem não tem capacidade, conhecimento e / ou sabedoria, mas se ira ao ver seu “nicho de comodidade” ameaçado quando você, mesmo sem pretender ser ameaça, demonstra capacidade, conhecimento e / ou sabedoria.
- O inimigo vai sempre exigir mais e mais de você, porém sem nunca colaborar de forma alguma para o seu aperfeiçoamento.
- O inimigo não faz críticas construtivas: ele sempre vai buscar o pior e, se por acaso você tiver feito algo perfeito, apenas se calará.
- O inimigo está ávido para te ver cair, falhar, vacilar, fraquejar e não perderá a oportunidade para tripudiar com voracidade predatória sobre você se isso ocorrer.
- O inimigo vai lembrar de qualquer falha sua, por menor que seja, e sempre estará com ela viva na memória e engatilhada para jogar na sua cara, em qualquer oportunidade, a despeito de que tenham se passado décadas.
Provavelmente o inimigo é uma pessoa incapaz de agregar, pior ainda quando está em posição de destaque, pois por não saber dividir sua proeminência (seja profissional, seja familiar) dando créditos a quem merece, vai optar por todos os procedimentos cáusticos, difamatórios, ofensivos e prejudiciais possíveis.
Se, por acaso, o inimigo chegar a fazer algo que chegue a te beneficiar, pode ter certeza de que aquilo será jogado em sua cara pelo resto de sua vida: é uma dívida que só a morte, sua ou dele, vai extinguir.
(E se for a sua, pode contar que ainda haverá chacota e questionamento de sua memória)
Enfim, quisera eu que fosse apenas uma infantilidade e até nem tenho muitos, mas tenho, sim, pessoas que atuam como inimigos.
Poderia citá-los pelo nome, um a um, pois os tenho em número menor que os dedos de minhas mãos, mas… é mais conveniente a opção de lançá-los ao limbo.
E você… tem inimigos?
DISCERNINDO E CONCLUINDO
Esse é o vídeo onde registrei a fase embrionária do raciocínio desenvolvido aqui nesse texto: definitivamente sou meu maior obstáculo, mas certamente não sou meu maior inimigo, cabendo a mim o esforço e o aperfeiçoamento para conseguir fazer melhor tudo o que estiver a meu alcance, seja na área física, seja na área intelectual!
O INIMIGO, sempre que puder, fará de tudo para se transformar em um obstáculo!
Se pudesse, se faria intransponível.
A melhor solução é o afastamento, pois relacionamentos tóxicos podem causar ansiedade, depressão e, até mesmo, a morte.
Se for no meio profissional, considere bem: não tem dinheiro no mundo que pague a sua paz, muito menos a sua vida.
Perceba que não existe “bom inimigo”: esse seria o obstáculo.
O OBSTÁCULO não é necessariamente seu inimigo e existe para ser superado: há pessoas cujo papel em nossa vida é exatamente esse e, após todo o processo — e isso pode levar anos — corremos até o risco, como no exemplo que dei acima, de lembrar com ternura de alguns episódios.
Superar o obstáculo nos aperfeiçoa e, normalmente, passamos a considerá-lo fácil: na academia simplesmente aumentamos o peso ou o número de repetições; na vida, creio que nosso papel passa a ser o de auxiliar outras pessoas que possam estar passando por situações parecidas.
Ah! Baseando-me no que aprendi sobre COMPETÊNCIAS, os obstáculos profissionais são desafios que, se vão além dos limites de seus conhecimentos acadêmicos, certamente podem ser solucionados por alguém devidamente qualificado naquela área.
Cabe a você avaliar se o obstáculo é tão importante que vale a pena também se qualificar para lidar com ele… ou (largar de ser mão de vaca e) contratar alguém competente naquela área para superá-lo por você!
Não é vergonha.
Muito obrigado por sua atenção e espero que possa, de alguma forma, ter lhe ajudado ou, ao menos, distraído.
SONETO PEDIÁTRICO
Quando de teus verdes olhos
O lampejar me alucina
Toda a loucura e a lucidez
Têm o teu nome… Carina.Talvez seja o inexistente
que contém os universos,
mistérios que um penitente
deseja por nestes versos.Louco eu sou e te confesso
que meu pecado é te querer.
De tua busca não cesso…Procuro por um acesso,
meus loucos esforços não meço:
… só serei feliz com você.
Eu, após ter descoberto que poesia não é só “coisa de viado”, aos 17 anos.
(Terminei de escrever por volta das 4:00h, mas para ela, que não vai ler, importa mais que eu lave as panelas… e, para falar a verdade, a mim também!
Sem curtidas nem aplausos, sem comentários nem compartilhamentos, vão-se embora as expectativas de um livro.
Só você pode me ajudar.
Obrigado.)
Pergunta que não quer calar…
Se alguém afirma querer o TEU bem, quando na verdade, deseja ver o bem DELA na TUA vida, essa pessoa é um inimigo, ou um obstáculo?
Pelo que entendi é alguém que não te causa mal, querendo apenas tirar alguma vantagem por estar ao seu lado, é isso ?
Bom, nesse caso não é inimigo nem obstáculo e, tendo sido capaz de identificar esse comportamento na pessoa, cabe inteiramente a você decidir o que fará : se até os animais (que nada querem além de tirar vantagem de nossa existência) podem ser adestrados a nos dar alguma satisfação, não precisa sair chutando a criatura só por não retribuir suas expectativas… se não estiver causando prejuízo, só o tempo pode responder se vale a pena manter algo assim.
Obrigado por comentar!!
Na verdade, são pessoas que, independentemente da intenção, dizem querer o meu bem, quando na verdade querem me obrigar a ser do jeito que eles querem. É isso. Confundem querer o meu bem com se achar no direito de me obrigar a ser do jeito que eles querem.