Dor e Delícia na Desumana Indústria Tecnológica de Inclusão Auditiva

Refém Rebelde

Há pouco mais de um mês passei pelo infortúnio de uma maior degradação em minha audição e isso me tornou ainda mais dependente de minhas próteses com tecnologia auditiva, particularmente para conseguir realizar telefonemas e ter acesso aos recados de voz, bastante comuns em aplicativos como o Messenger e o WhatsApp.

Antes disso minha surdez era classificada apenas como “moderada” e confesso que não sabia o quanto isso, apesar de ruim, era “bom”: às vezes até podia me dar ao luxo de realizar atividades sem usar os aparelhos, pois a sensação era (apenas) a de estar com um travesseiro ao redor da cabeça e, mesmo com os sons abafados e as vozes incompreensíveis, os sons do ambiente eram distintos… especial e prazerosamente a música.
Agora nem com grande esforço sou capaz de ouvir minha própria voz, respiração ou pulsação, quanto mais a maior parte do que soa no ambiente!

AS DELÍCIAS DA TECNOLOGIA AUDITIVA

Este texto deve ser considerado a sequência oficial do episódio narrado em “Providência 2” e, sim, eu fui trabalhar como Gerente Adjunto em Serviços de Eventos no Comitê Olímpico Rio 2016: diante da responsabilidade, desenterrei o meu (praticamente inútil) Rexton Cobalt+ para evitar ser um surdo completamente alienado, mas as próteses estavam guardadas e desativadas por tanto tempo que com menos de um mês de uso começaram a apresentar uns piripaques, ruídos de curto circuito… às vezes até paravam de funcionar sem mais nem menos!

Como aquele emprego estava pagando bem satisfatoriamente — dinheiro é coisa séria — e minha função nos jogos exigindo todo um planejamento antecipado de operacionalidade e recursos humanos, seria impossível pensar em me afastar para resolver isso: tinha grande dificuldade de acesso à fonoaudióloga com quem as adquiri, tanto por sua agenda quanto pelos locais onde atendia, fora a grande desconfiança de que me atendia de má vontade… então decidi que era a hora de buscar assistência em outro lugar, com outra pessoa.

OLHA O APARELHO ALI, EM CIMA DO CELULAR!

Pela bondade de Deus e pela eficiência dos mecanismos de busca do Google acabei, entre as opções pesquisadas, entrando em contato com o Diogo Fleming, do CADI, que, por sua relativa proximidade com meu local de trabalho, pareceu ser a melhor opção para realizar quaisquer coisas relacionada às próteses.

Enfim, por mais liberal que pretendesse soar a política de trabalho por objetivos do Comitê, uma coisa que hei de ressaltar num futuro texto é a percepção incômoda que as pessoas têm de quando precisamos nos ausentar do trabalho para resolver assuntos durante o “expediente”, por qualquer razão que seja, por mais domínio que você tenha de suas tarefas… e naquela tarde de maio, antes de sair do MPC, tomei o cuidado de imprimir antecipadamente todos os relatórios e entregá-los, numa pasta, a meu gerente… e ainda assim isso não impediu que, estando já distante e prestes a descer pela escada rolante, meu chefe bradasse para que todo o andar ouvisse: “volte logo!”, como se eu estivesse saindo para uma sessão de cinema ou qualquer outra forma de atividade recreativa.
A surdez não chega a ser uma vantagem, mas pelo menos pude fazer cara de paisagem e seguir andando como se não tivesse escutado aquilo.
Só agora, depois de velho, estou aprendendo a lidar com esse forte sentimento de culpa por antecipação: levei todo o trajeto sentindo o peso de agir como se estivesse roubando algo de alguém…

Ao chegar ao consultório e apresentar meu problema, já comecei a ser “quebrado” quando, com um sorriso, o doutor Diogo me informou que o aparelho teria de ser enviado a São Paulo para reparos e aquilo me deixou atônito: como eu iria interagir em meu trabalho durante esse período? Será que isso significaria o fim de minhas atividades olímpicas?

Enquanto ia sofrendo por antecipação com mais essas questões, o doutor olhava seriamente para a audiometria bem recente que eu havia realizado durante o processo de admissão e, antes que eu pudesse formular qualquer questão, disse simplesmente que enquanto a prótese estivesse em manutenção ele iria… me emprestar outra que valia “apenas” pelo menos TRÊS VEZES MAIS que a defeituosa!!!
Aí eu entrei em pânico: e se essa joia do tesouro der algum problema? E se tiver um arrastão quando eu passar ali pela Cidade de Deus? E se meu suor corrosivo destruir essas pérolas… como vou poder pagar por isso se acabei de entrar num emprego justamente na intenção de quitar uma pesada dívida que contraí ao adquirir o anterior?

Após lutar alguns instantes contra essa forte tempestade de questões, a primeira questão que consegui formular foi: e quando eu venho pegar esse aparelho emprestado?
— Pode ser agora!
Imagino os olhões que eu devo ter arregalado, mas se o fiz, ao menos não assustei o doutor, que prontamente foi pegando as caixinhas para abrir, extraindo as próteses novinhas, conectando ao computador através de uns cabos diferenciados (que eu, também técnico de informática, nunca havia visto), programando minha audiometria em um software especializado, colocando cuidadosamente os aparelhos em meu ouvido e, tudo em posição, começou a fazer perguntas sobre a qualidade de minha audição através dessas novas próteses: está metálico? Está com muito ruído? Está com microfonia? E desse outro jeito… fica melhor?

Eu jogava check-ins no foursquare!

ERA O TIPO DE CHATO QUE GUARDAVA DATA E HORA DE CADA COISA!

Quase uma hora após minha chegada, saí dali absolutamente atordoado usando um Rexton Emerald S40 todo ajustado à minha deficiência e, funcionando no piloto automático, fui dirigindo de volta ao trabalho: só após ter passado a Cidade de Deus, ainda por baixo do elevado da Linha Amarela, é que fui me dar conta de um barulho agudo, repetitivo… tic, tic, tic…
Era a seta do carro!!
Após dois anos sem escutar aquilo, de repente pude perceber o quanto realmente estive surdo e mal cuidado por todo esse tempo… e as lágrimas começaram a rolar e retornavam contra minha vontade a cada nuance sonora que voltava a reconhecer, a cada ruído novo-velho que ia percebendo… como era bom ouvir novamente!

Quase uma hora após minha chegada, saí dali absolutamente atordoado usando um Rexton Emerald S40 todo ajustado à minha deficiência e, funcionando no piloto automático, fui dirigindo de volta ao trabalho: só após ter passado a Cidade de Deus, ainda por baixo do elevado da Linha Amarela, é que fui me dar conta de um barulho agudo, repetitivo… tic, tic, tic…
Era a seta do carro!!
Após dois anos sem escutar aquilo, de repente pude perceber o quanto realmente estive surdo e mal cuidado por todo esse tempo… e as lágrimas começaram a rolar e retornavam contra minha vontade a cada nuance sonora que voltava a reconhecer, a cada ruído novo-velho que ia percebendo… como era bom ouvir novamente!

Nesse dia 19 de maio de 2016 repleto de aventuras e emoções, também cheguei a duas conclusões:
1. Minha primeira fonoaudióloga era uma corsária mercenária, interessada apenas em empurrar um produto caríssimo no qual jamais sequer um ajuste realizou, por isso eu ouvia tão mal e, desestimulado, nem mesmo utilizava a prótese: por causa de gente assim qualquer um pode ter sua condição de saúde piorada!
2. A função do líder é, sim, ser obstáculo aos subordinados e, consequentemente, o papel dos subordinados, os bons ao menos, é superar tais desafios com o máximo possível de graciosidade: mal entrei de volta no escritório e meu gerente se aproximou com uma expressão de agonia e urgência, questionando por alguma informação crucial que deveria ter sido prestada por mim para que ele pudesse apresentar em uma reunião com outros gerentes ainda maiores que estavam todos ao redor da mesa dele, olhando para mim com uma expressão de condenação…
Sorridente (sim, sorriso da mais cáustica acidez), andei até a mesa dele, procurei pela pasta que havia entregue tão cuidadosamente em suas mãos antes de sair (e agora estava soterrada por croquis das instalações), fiz cara de sério ao olhar para dentro dela (que maldito ator eu sou às vezes: queria mesmo que achassem que falhei!) e, de repente, puxei duas folhas de papel de lá e — voilà! — eram exatamente as listas atualizadas que queriam que eu não tivesse preparado para poder alegar minha incompetência!
Não foi magia nem tecnologia: foi um pouco de desatenção dele e, não cabe modéstia aqui, competência minha mesmo. (Numa próxima publicação vou contar que tudo isso foi orquestração de uma pessoa incomodada, simplesmente, com minha existência…)
Já sou surdo e, passível de não escutar algum detalhe exposto oralmente, é por isso que, quando líder, sempre dou a maior atenção aos subordinados que retornam informando cumprimento da função delegada: primeiro para comprovar se foi, de fato realizada a contento (e, se não, qual a razão; sempre tomando os procedimentos cabíveis) e segundo para adequar aquela parte, completa, ao todo!

LUA DE MEL ACABA TÃO RÁPIDO?

O aparelho velho até voltou do reparo, mas além de não abranger a mesma amplitude sonora do novo, logo começou a apresentar ruídos estranhos e enguiçar sem mais nem menos: foi uma prótese pouquíssimo utilizada, mas mesmo assim começou a “morrer” com aproximadamente dois anos após ser desembalada… e naquele momento ainda nem estava considerando a questão da obsolescência programada: fiz das tripas coração, conheci o empréstimo acessibilidade do Banco do Brasil e cumpri todos os requisitos para conseguir, com juros bem abaixo do mercado, parcelar em 60 vezes o custo de quase 10 mil reais.

Por um acaso do destino, topei levar, por duzentos reais a mais, um S60 no lugar de um S40, só que no momento da compra o fabricante só dispunha de aparelhos S80 e, no final das contas, foi com esse que acabei ficando e, numa promoção extremamente benigna, acabei trazendo junto um poderoso acessório chamado “Smart Connect”, que usa a tecnologia auditiva via Bluetooth para, entre outras coisas, viabilizar acesso às mídias e telefonemas sem sequer haver a necessidade de manuseio do aparelho celular.
Costumava chamá-lo de “colar mágico”, pois me permitia também ajustar o volume e alterar o perfil de uso — automático, ambientes barulhentos, música… — apenas tocando em seus botões e, quando aliado ao celular, ainda tinha o poder de verificar a carga das baterias e fazer um direcionamento sonoro mais adequado conforme alguma situação, como uma conversa importante no meio de um ambiente barulhento, se apresentasse.

Trabalhando, de aparelhos e acessório novos… tudo perfeito?
Quase: apesar do inverno ter sido bastante agradável, algumas atividades como eventos de teste e reuniões acabavam exigindo que, às vezes, caminhássemos por longas distâncias… que tal sair caminhando do MPC para fazer uma simulação de acesso do público no Parque Maria Lenk?

Enfim, foram dias intensos e inesquecíveis na preparação para o maior evento esportivo do mundo (e certamente vou postar mais sobre o que vivi e aprendi), mas também foram dias de muito, muito suor que penetrou em meu “colar mágico”, corroeu seus circuitos e tornou seu funcionamento intermitente até o dia em que, durante os jogos paralímpicos, falhou definitivamente.
Mais uma vez, por estar na garantia, meus queridos fonoaudiólogos providenciaram rapidamente a substituição e determinaram que aquela maravilha tecnológica deveria sempre ser usada por cima de qualquer roupa que eu estivesse usando… nunca por dentro!

Encerrei 2016 endividado até 2021, mas ao menos estava escutando melhor do que nos últimos anos. Em 2017 me esforcei para fazer revisões nos aparelhos a cada trimestre, ainda assim meu suor corrosivo conseguiu desgastar alguma coisa por dentro deles e, para impedir que piorasse, acabei investindo em um desumidificador, mas em 2018, apenas dois anos após tão dispendiosa aquisição e já sem garantia, nenhum de meus esforços me preparou para a catastrófica sequência de eventos que se sucedeu…

Mesmo usando o Smart Connect por sobre as roupas e bem longe de meu corpo, a exposição ao ambiente e até o ato de carregar meu filho de 1 ano no colo gerou desgastes e atritos que começaram a fraturar o chamado “cabo de indução”: primeiro as capinhas externas que protegiam seus plugues racharam para, na sequência virar pó. Logo em seguida, a estrutura metálica interna resolveu se revelar bem nesse fatídico ponto de junção e, pouco tempo depois o contato entre ela e o plugue se rompeu, fazendo com que o aparelho ficasse piscando em laranja sem conseguir conectar às próteses, me deixando totalmente sem acesso aos telefonemas e mídias que me foram comuns nos últimos dois anos.

AH, MAS É SÓ UM CABINHO…

Foi o que eu pensei e imediatamente comecei a pesquisar por sua reposição e, de uma maneira assustadora, não há sequer referência a tal objeto em local nenhum desse mercado (que até então eu pensava ter tudo) chamado internet: nem mercado livre, nem e-bay… só o produto inteiro aparece nas buscas e, se ganhei de brinde o primeiro, o preço de uma reposição é absolutamente tenebroso!
Tentei conseguir essa peça de reposição através de meu fonoaudiólogo, mas ele também não conseguiu.

Tentei conseguir essa peça de reposição através de meu fonoaudiólogo, mas ele também não conseguiu.
Por fim, já começando a ficar desesperado, tentei por mais uma fonte e o diálogo apresentado na imagem deixa exposta a “boa vontade” dos fabricantes:

Sim, essas criaturas fofinhas querem que, independente de sua condição financeira, um simples cabo te obrigue a descartar todo o produto, a despeito do núcleo estar funcionando perfeitamente, e comprar um lindo conjunto novinho por uma bagatela superior a mil reais!!
Ser refém de uma empresa cuja ganância te mantém impossibilitado de se comunicar é uma sensação bastante frustrante… e não sou desses que fica calado diante de um abuso: o que será que esse maldito cabo tem de tão especial? Será que esses componentes são realmente tão raros e exclusivos assim?

Lembrei da época quando, bem criança, ia para a casa do meu pai e junto com meu irmão queimávamos as pontas dos dedos soldando cabinhos para ligar a guitarra à caixa de som… invoquei todos os meus conhecimentos de informática prática e de análise de sistemas (que, aliás, tranquei no 3º período) e decidi me empenhar no aparente e inicialmente complexo caso do cabinho com fio quebrado: peguei o carro e fui falar com o Vitão em sua loja de eletrônica!
Expliquei a situação e, de começo com algum receio, ele desconectou e olhou bem para o cabo, fez medições com o voltímetro… e deu uma gargalhada daquelas:
— Pô, isso aqui é um cabo comum!!!
Pegou a solda, refez as conexões e… o bichinho voltou a encontrar meus aparelhos com perfeição!

— E cadê os plugues novos? Do jeito que está aí vai arrebentar assim que teu filho meter a mão!
Pois é… eu não tinha plugues novos…
Mas a perspectiva de não apenas frustrar a ganância daquele fabricante, mas de auxiliar outras pessoas que possam estar passando por uma situação parecida e — somos bons, mas também precisamos sobreviver — conseguir reforçar a renda fez meus olhos brilhar e, no dia seguinte, lá estava eu atrás desses peculiares plugues nas lojas de eletrônica de meu bairro!

Falei peculiares? Acho que foi pouco: os plugues simplesmente não são encontráveis! Nem no comércio do meu bairro e nem no dos bairros vizinhos!!!
Naquele dia acabei descobrindo o lindo tubo termocontrátil que foi usado no mesmo dia, pois, de fato, a primeira coisa que meu menino fez quando viu o colar no meu pescoço foi meter a mão e arrebentar a solda paliativa que havia sido feita.
Fui encontrar o plugue em um único vendedor do Mercado Livre e já comecei encomendando cinco! Agora era só esperar…

Infelizmente o verão chegou primeiro e não foi qualquer verãozinho desses, mas o próprio representante do inferno chamado “verão carioca”: um calor meio úmido que causa a sensação de pele fritando e, de mim, faz jorrar litros de desagradável e cáustico suor até durante o simples ato de pensar, quanto mais se realizar algum esforço!
E eu, sendo marido cavalheiro, decidi auxiliar minha esposa, cerimonialista, em uma festa de aniversário: era só subir com algumas coisas até a cobertura e, chegando lá, mais dois lances de escada até de onde se podia ver a extensão do horizonte… e foi diante daquela visão magnífica e suando como um porco na sauna a vapor que decidi desligar minhas próteses, lavar a cabeça e dar um tempo relaxando e curtindo um silêncio forçado…

Enquanto aguardava, lembro bem, fiquei pensando que com tantas tecnologias protetivas já comuns (como a IP68) e de vanguarda (como a novíssima IP69K) já sendo utilizadas até em aparelhos celulares, porque a tecnologia auditiva, cujos produtos podem custar até mais que alguns automóveis, é construída com tanta e incômoda fragilidade?
Estariam as indústrias sendo tão canalhas a ponto de explorar abusivamente os deficientes através de suas demandas mais essenciais e fabricando produtos capazes de funcionar apenas até um pouco além do prazo da garantia?

Tanta coisa suspeita que fui ficando até triste, mas durante essas divagações deu tempo da cabeça ficar sequinha e estava na hora de começar a pequena cerimônia para a qual, afinal de contas, eu também estava convidado: coloquei e liguei tudo, desci um lance de escada e na hora exata em que sentei ao lado de minha esposa… meu aparelho esquerdo começou a fazer ruído de curto circuito e parou de funcionar!

Imediatamente removi o aparelho, tirei a bateria de dentro e recoloquei para ver se voltava a funcionar: morto!
Tirei de novo, aguardei por uns 10 minutos: a cerimônia rolando toda linda e emocionante e eu sem conseguir escutar nada, mas ao menos ia batendo palmas quando a galera aplaudia, rindo junto sem entender o motivo… um perfeito figurante, nervoso de sentir tremer tudo pro dentro!
Recoloquei a bateria, coloquei no ouvido e pude ouvir a gloriosa musiquinha da reinicialização, dei um suspiro. enquanto ela ia tocando, mas assim que acabou entrou novamente o pavoroso curto-circuito e o aparelho desligou. Resolvi não arriscar mais: plena noite de sábado e eu mandando mensagem pro meu amado fono e querem saber? Ele respondeu!!!
Se dispôs até a ir em encontrar no dia seguinte – isso mesmo, no domingo! – para me ajudar: a galeria onde funciona o consultório nem ia abrir, mas ele disse que ia pegar a chave só para me atender!!!
Me senti importante, mas ia ficar puxado sair de uma festa em Copacabana lá pelas 3 da manhã, ir até a dimensão paralela de Campo Grande e retornar para o Catete no dia seguinte: melhor resolvermos isso só na segunda mesmo…

FRANKENSTEIN DA TECNOLOGIA AUDITIVA

Acabou a cerimônia e eu estava meio que em pânico: fui totalmente surdo e mal-humorado para a festa e, para piorar meu desespero, minha esposa ainda não tinha entendido completamente a profundidade da minha surdez e, dizendo que as músicas estavam ótimas, até me convidou para dançar!!
A animação dela era diretamente proporcional ao meu mal estar: ela querendo ficar “de boas” e eu procurando um buraco para me enfiar…
Realmente ela não entendia que eu não estava escutando NADA e, quando a ficha começou a cair, acabei ganhando uma história para contar em qualquer palestra motivacional que eu for apresentar:
— Amor, olha as pessoas dançando… as músicas são as que você gosta! Você não pode ficar um pouco feliz?
— Linda, olha aquele avião passando lá no céu: estão indo pra Europa! Tem uma primeira classe maravilhosa onde estão bebendo Chardonnay e comendo foie gras com torradinhas salteadas de ervas finas… e quer saber? Quero que todos, os que estão viajando e os que estão dançando, sejam muito felizes, mas nesse exato momento me sinto como um eunuco no meio de uma suruba: vendo todo mundo ser feliz, mas sem ter o equipamento necessário para participar da felicidade!
…e acabei chorando.
(Não, eu não curto suruba: usei uma figura de linguagem chamada metáfora… hein?! Não, ninguém meteu em lugar nenhum, nem dentro, nem fora… e nem no eunuco!!! Não, não existe eunodedo… e para de me olhar com essa cara!!!)

O texto já está ficando bem grande e vou apertar o botão de avanço rápido: do meio da festa em diante minha capacidade de leitura labial subitamente melhorou – sério! – e a noite não foi um completo desastre.
Chegando em casa enfiei a prótese no desumidificador e fiz umas dez sessões completas até segunda-feira, quando fui ao consultório e se constatou que só enviando para São Paulo mesmo…
A dose de nervoso foi tão forte que explodiu uma mega herpes labial: vulnerável, eu?! Totalmente!
Ainda na segunda finalmente chegaram os plugues, consegui consertar o cabo de indução do Smart Connect e ficou lindo!

Só falta agora o aparelho voltar funcionando de São Paulo para que, finalmente, saibamos se ao menos o segredo desse cabo foi desvendado e eu possa compartilhar o produto de minha rebeldia com outros surdos que estejam passando por situação parecida.

Enfim, fica o convite para que curtam essa postagem, curtam o site, curtam minhas páginas nas redes sociais e, especialmente, comprem as camisas que comecei a criar com base em minhas experiências desde que as profundezas da surdez me tragaram: o plano é aumentar a visibilidade dos surdos oralizados e ir sendo ajudado e ajudando quem passar pelo caminho.

Um abraço.

Pode me ajudar compartilhando e curtindo?

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